- Padrões de pensamento que nos tornam optimistas a um nível irrealista:
O optimismo é um impulso natural no processo do pensamento. O optimismo exagerado é uma energia que não é aperfeiçoada e equilibrada. As pessoas que são exageradamente optimistas estão mais propensas a criar fantasias que sabem que não se irão realizar do que a criar um projecto a partir do qual possam trabalhar. Apesar de gostarem genuinamente dos outros, as pessoas que pensam dessa forma sentem-se muitas vezes profundamente sós. Quanto mais nos deixamos envolver pelos padrões de pensamento que nos tornam exageradamente optimistas, tanto mais desligados ficamos das nossas emoções. Se não entrar em equilíbrio, este impulso pode originar uma exaustão emocional. Do ponto de vista da medicina tibetana, ele pode também conduzir a um crescente estado de pânico interior e de ansiedade que pode contribuir para que o pensador se torne susceptível a cancros de garganta, pulmões ou tiróide. Dores lombares, enxaquecas e fobias têm também a sua origem neste estado.
Um bom pensador é um arquitecto da consciência. O pensar correcto é o processo de reunir energia invisível e de construir um edifício que torna as ideias ou as eventualidades reais. Se nos tornarmos pensadores ajustados, iremos testemunhar uma profunda mudança em termos sociais, culturais e globais. Passaremos a ser mais responsáveis pelas nossas acções. Compreenderemos a necessidade de cooperação mútua. Iremos sentir o impacte do pensamento à medida que ele ocorre, e o mundo tornar-se-á interligado por uma conexão empática que ajudará a definir as nossas sociedades como um todo, originando uma maior integração social. Estaremos a dar o primeiro passo para nos compreendermos uns aos outros.
- Padrões de pensamento que nos levam a ser medrosos, sombrios e deprimidos.
Possivelmente, todos nós nos sentimos receosos e em baixo num momento ou noutro da nossa vida. No entanto, quando o padrão de pensamento de alguém começa a incluir estes estados mentais numa base regular ou diária, a medicina tibetana considera que a mente está a reagir a forças cármicas que foram criadas porque o indivíduo foi avassalado pelo mundo que o rodeia.
De um modo geral, as pessoas que experimentam estes estados vivem com receio de comunicar com os outros. O conceito de timidez cobre esta experiência até certo ponto, mas no âmago deste medo de comunicar está na verdade um profundo sentimento de isolamento e abandono. Se este estado não for curado, o indivíduo pode ficar susceptível a comportamentos de dependência, doenças mentais, problemas de pele e do sistema nervoso central à medida que a idade for avançando.
- Padrões de pensamento em que nos encontramos focados apenas em resultados materiais, tais como dinheiro, a carreira e os relacionamentos:
Focarmos totalmente a nossa atenção nas posses, no controlo sobre os outros, nos recursos e nos eventos, no dinheiro e nos bens mundanos acabará por ser equivalente a cometer um suicídio lento. As pessoas que agem desta forma esqueceram-se de como viver. Divorciaram-se da vida. O mais triste é que há milhões de pessoas que vivem assim, gerando inquietação social e a lenta deterioração da integridade social, o que exerce uma pressão invisível sobre os outros para que ajam em conformidade.
O leitor pode achar que tal é compreensível, até mesmo digno de admiração, que uma pessoa que seja pobre pense de forma obsessiva em dinheiro e no trabalho. Mas na realidade esse comportamento faz diminuir as suas oportunidades de progresso porque o seu pensar obsessivo começa a desenvolver-se dentro dela e cria pilhas mentais de lixo. Quanto mais estreito for o nosso foco, tantas mais as oportunidades de mudança que perdemos. Corremos o risco de cair na armadilha de agirmos de acordo com a nossa obsessão e não de acordo com o nosso objectivo.
As pessoas que se focam nos relacionamentos fazem-no porque esperam que aqueles em que se estão a focar lhes permitirão ter o controlo da sua (delas) própria situação. Da mesma forma, as pessoas que fazem de si mesmas o centro das atenções usam os outros como amortecedores para se protegerem das dificuldades imaginadas das suas vidas.
Se uma pessoa rica tiver uma visão estreita a respeito do trabalho e do dinheiro, isso advém de uma falta de fé nas suas realizações: ela sente que no fundo não tem qualquer valor. Conheço um bilionário que está preso na armadilha do mundo que ele mesmo criou. Não tem qualquer fé naquilo que conseguiu e, no entanto, sente que deve organizar tudo para que possa continuar como está. Dorme pouco, veste-se com simplicidade e tem um carro pequeno, não porque assim o deseje, mas porque não consegue dar valor à sua riqueza e aos seus feitos. Sente receio das pessoas e está a começar a compreender porquê.
Por vezes esse tipo de pessoas foca-se exclusivamente em relacionamentos intensos com uma pessoa, ou com um grupo de pessoas em especial. Isto deve-se ao facto de elas quererem gostar de si mesmas e de se aprovarem a si mesmas. As pessoas para quem olham são espelhos que reflectem a imagem que desejam ver e em que querem acreditar.
Estes tipos de pessoas são susceptíveis a arterites, reumatismo, gota, doença de Parkinson, síndrome de Steele, e a um vasto leque de doenças inflamatórias e do sistema nervoso. Os cancros da vesícula biliar, do fígado e do intestino são também comuns.
- Padrões de pensamento em que nos encontramos em que nos encontramos obcecados com as actividades físicas e sexuais:
Quando uma pessoa apenas se ocupa destes assuntos, isso significa que ela se encontra emocional e espiritualmente bloqueada. Não é porque procuram uma intimidade emocional que elas pensam assim. Fazem-no porque inconscientemente sentem que perderam a ligação com as energias espirituais da sua personalidade e com o mundo que as rodeia. E por isso se concentram nas actividades físicas ou sexuais para encontrarem vitalidade e energia, e para se sentirem em ligação e vivas.
Distúrbios do sistema musculoesquelético são comuns nas pessoas com este padrão de pensamento, tal como o são as crises súbitas de depressão. A maioria experimenta uma grande solidão nos últimos anos de vida.
- Padrões de pensamento em que nos focamos nas actividades espirituais, artísticas e religiosas, enquanto negamos o mundo material, a nossa própria cultura e a sua influência sobre nós:
Este género de padrão de pensamento ocorre porque a pessoa está absorvida pela busca da verdade e de um sentido para a vida, mas a forma de efectuar essa busca é desajustada e nada produtiva. A transformação espiritual, o empenho artístico ou a vocação religiosa imbuídos de um valor perdurável vêm através de alguma forma de interacção com a nossa própria cultura, com as realidades materiais e com a arte. Estes são os catalisadores e os meios através dos quais os padrões de pensamento construtivos e libertadores têm lugar nesta vida.
As pessoas que desenvolvem este tipo de padrão de pensamento são susceptíveis a dependências de todos os tipos, a doenças mentais, a todas as formas de cancro, doenças de dentes, distúrbios dos órgãos reprodutores, dos olhos e da visão. Também têm tendência a não gostar da humanidade, a não obedecerem à autoridade e a serem intolerantes em termos culturais.
Quanto maior for o nosso conhecimento a respeito destes padrões de pensamento negativo, maiores serás as nossas capacidades para desenvolvermos um pensar construtivo. O simples facto de estarmos conscientes deles permite-nos começar a limpar a nossa mente destes pensamentos indomados e da dor emocional que originam. Podemos fazê-lo olhando profundamente para dentro de nós mesmos durante alguns minutos todos os dias e reflectirmos se algum deles ou se todos eles se encontram instalados em nós. Com uma rapidez surpreendente, passaremos a ter um insight em relação ao modo como nós afectamos os outros e o mundo à nossa volta. Isto, por sua vez, reduz o conjunto da ocorrência cármica na nossa vida.
À medida que as nossas energias mentais e espirituais se vão fortalecendo, o nível geral do nosso processo de pensamento vai-se tornando mais forte, o mesmo acontecendo com a qualidade das nossas experiências emocionais, este processo de compormos o nosso próprio carma tornar-se-á também ele profundo, sem esforço. Daremos por nós imbuídos de um sentimento mais profundo de responsabilidade pela forma como pensamos e nos comportamos connosco mesmos e com todas as criaturas vivas. Se decidirmos aceitar esta responsabilidade, começaremos a compreender que todas as criaturas vivas procuram comunicar.
O que desejam comunicar é sabedoria, felicidade e a compaixão incondicional que flui através de todos nós e que constitui a nossa base enquanto criaturas vivas.
in A Arte Tibetana de Viver, Christopher Hansard